Ela não acumulava livros. Ao contrário de todos os seus amigos, com as suas estantes repletas de exemplares únicos e edições de colecionador, ela possuía apenas um: o que estava lendo no momento.
Toda vez que terminava de ler, ela comprava outro. Os antigos passavam sempre pelo mesmo ritual: um recadinho na capa, um comentário geral sobre a história na última página e um novo dono perdido em um banco de uma praça qualquer.
Hoje, porém, ela se sentia diferente. Não que tivesse algo de extraordinário no livro que havia terminado. História comum, personagens superficiais, nada. Não entraria nem na sua lista de quase-favoritos. Só um parágrafo, uma frase em especial, mexeu com ela. E, assim, ela não conseguia se livrar da ideia de manter o livro pra si.
Primeiro, tentou resistir. Deixou o livro no banco e saiu sem olhar pra trás. Minutos depois, voltou correndo e respirou aliviada quando percebeu que ainda estava lá. Sentou-se, imaginou o que seus amigos diriam, folheou novamente procurando aquela frase. Teve uma ideia.
Entrou na biblioteca da cidade e escondeu onde sabia que só ela encontraria: atrás dos livros sobre datilografia.