“É ele, é ele, é ele!”, alguém gritou na rua.
Quando percebeu, uma multidão já corria na sua direção. Não deu nem tempo de avisar os amigos, que andavam um pouco à frente e já haviam virado a esquina. Saiu correndo e passou por eles, de sapato desamarrado e sem nem olhar pra trás.
Entrou disparado na estação, deixando todo mundo bem longe. Enquanto seus amigos correram pela direita, ele entrou na primeira loja que viu e se abaixou atrás do balcão. Só então percebeu que era uma loja de fantasias. Não pensou duas vezes: com os trocados que tinha no bolso, comprou bigode e cavanhaque falsos. Com um autógrafo, o anonimato.
Saiu caminhando e misturou-se. Havia tempos que não conseguia andar na rua com tanta tranquilidade. Viu seus amigos correndo pelo hall e riu. Isso daria uma boa história, ele tinha certeza. Ou talvez até uma canção, quem sabe.
Sentou-se em uma lanchonete e pediu um café. Aproveitou também para fazer um lanche antes da viagem, afinal, não sabia se conseguiria comer em paz no trem. Na hora de pagar, comprou o jornal do dia e sentou-se para ler as notícias e conferir os últimos comentários sobre o clássico do final de semana anterior. O derby entre Everton e Liverpool ainda estava dando o que falar.
De lá, viu seus amigos pularem muros e grades, subirem em bancos e carrinhos, se esconderem nas cabines telefônicas e de fotografias. Achou aquilo tudo muito divertido. Daria uma ótima cena de filme, isso sim.
Olhou para o relógio e notou que faltavam apenas poucos minutos para o trem partir. Tranquilamente, caminhou até o seu vagão e aproveitou para perguntar ao oficial da estação qual seria a previsão de chegada. Quando notou que seus amigos estavam perto e bastante acompanhados, era hora de partir. Retirou seu disfarce e subiu no trem com a sensação de que aquilo tudo ainda era só o começo.